Milhões de anos antes de o Tiranossauro rex sacudir a atual América
do Norte, seu antepassado aterrorizou o outro lado do globo. O predador
chinês, porém, tinha suas particularidades. Era mais baixo (nove metros,
três a menos que o rival famoso), mais leve (1,4 tonelada – o Rex
chegava a cinco) e bem mais fofo. Literalmente. Seu nome já denuncia
esta característica. Paleontólogos chineses e canadenses, responsáveis
por sua descoberta, o batizaram de Yutyrannus huali – uma mistura de
latim e mandarim que, num português literal, resulta em “belo tirano de
penas”.
Dinossauros de penas não são novidade para a ciência. Muitos são
conhecidos, a maioria pequenos e com asas. Mas a nova espécie chinesa se
sobressai. É 40 vezes mais alta que o maior felpudo descrito até agora.
O corpo coberto serviria para reter calor, numa época em que a
temperatura do planeta rodeava os 10 graus Celsius. Mas, para os
paleontólogos, o Yutyrannus pode servir como uma releitura dos tiranos
que o sucederam. Agora, eles não descartam que até o famoso Rex fosse
parcialmente envolto por penas.
- O Yutyrannus aumenta drasticamente a escala de tamanho dos
dinossauros que seriam felpudos – revelou o professor Xu Xing, do
Instituto de Paleontologia de Vertebrados de Pequim. – É possível que as
penas tenham sido muito mais disseminadas, ao menos entre os
carnívoros.
À época do Rex, 55 milhões de anos depois, o planeta já estava
mais aquecido. Os grandes dinossauros até sofreriam de calor. As penas,
portanto, seriam um apetrecho desnecessário se dependessem apenas da
temperatura.
- Houve grandes mudanças climáticas dentro do período Cretáceo,
que tornou-se mais quente com o passar dos anos – explicou ao GLOBO o
paleontólogo canadense Corwin Sullivan, coautor do estudo sobre o
Yutyrannus, publicado ontem pela “Nature”. – Sabemos que esta nova
espécie viveu em uma época mais fria por causa da análise geoquímica dos
fósseis.
Sullivan descreveu a penugem da nova espécie como “algo mais
felpudo, como é um pintinho hoje em dia, do que as plumas rígidas de uma
ave adulta”.
- As penas podem até ter sido duras, mas não há razão para
pensarmos que seriam suficientemente firmes para prover-lhes alguma
proteção contra outros animais – definiu. – E também não há por que
acreditarmos que alguém estaria muito interessado em puxá-las.
De fato, por trás do belo revestimento, havia um carnívoro que
inspirava cuidados. A dieta do Yutyrannus ainda será estudada, mas
certamente incluía dinossauros menores e mamíferos.
Sua vida social, se havia alguma, é um mistério ainda maior.
Sullivan e Xing encontraram três esqueletos da espécie em uma mesma
pedreira na província de Liaoning, mas isso não significa que o trio
viveu junto, ou sequer que fossem contemporâneos.
Segundo Sullivan, é muito difícil, “alguns diriam até impossível”
provar se o dinossauro chinês é antepassado direto do Rex
norte-americano.
- O Yutyrannus está provavelmente próximo à linhagem ancestral do
Rex, mas não temos como estabelecer se ele estava dentro desta
linhagem.
Paleontólogos sabem há mais de uma década que alguns pequenos
dinossauros tinham o corpo aveludado, e a maioria dos exemplares que
levaram a esta descoberta vieram da mesma província do Yutyrannus, no
norte da China. Houve, no entanto, uma associação das penas com a
habilidade de voar. Com o volume do novo tiranossauro, esta relação
também caiu por terra.
Agência O Globo
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